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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Trocando Ideia > Com Pita e Zé Sérgio

por Ricardo Pilat | pilatportasio@gmail.com | @ricardopilat


Você que é mais novo e acompanhou o caso da troca de Ganso do Santos para o São Paulo talvez não saiba, mas a história de negociações entre os clubes vem de longa data. Até já fiz um post sobre isso (leia aqui). Serginho Chulapa, por exemplo, trocou o Tricolor pelo Peixe em 1983. Toninho Guerreiro, em 1970, havia feito o caminho inverso.

A coluna Trocando Ideia de hoje conversou com dois jogadores que fizeram história nos dois clubes e participaram de uma famosa troca entre os clubes. Em 1984, o meia Pita era ídolo no Santos, mas estava sem contrato. Zé Sérgio, ponta-esquerda (posição extinta) também era um dos grandes jogadores do São Paulo, mas vivia uma fase ruim, com muitas contusões. Meio na surdina, os dirigentes articularam a transação. O Tricolor levou Pita e cedeu Zé Sérgio junto com o Humberto ao time da Baixada.

"O Santos que queria fazer uma equipe a curto prazo pra já tentar ser campeão em 1984, e conseguiu esse objetivo (Campeonato Paulista). O plano do São Paulo era mais a longo prazo e foi o que aconteceu com a ida do Pita", explica Zé Sérgio.

Neste domingo, Ganso enfrenta o Santos pela primeira vez e deve ser muito xingado pelos santistas. Pita lembra que logo no primeiro jogo enfrentando o ex-clube, no Morumbi, ele deixou sua marca. E depois, quando foi à Vila, teve boa recepção. "No primeiro jogo até fiz um gol, ganhamos de 4 a 1. Quando eu fui jogar na Vila Belmiro fiquei muito emocionado porque a torcida do Santos fez uma homenagem", lembra o meia.

Hoje, ambos trabalham no futebol. Zé Sérgio é técnico do sub-20 da Ponte Preta e faz estágio com o técnico do time principal, Guto Ferreira. Pita foi contratado pelo São Paulo como observador de jogadores.

Confira abaixo nosso bate-papo com os dois craques, que comentaram também o futebol atual. Entrevista completa no vídeo e os principais trechos na versão escrita:

Pita > Jadson e Ganso juntos: "Seria bom para o São Paulo"



Redação do Esporte - Como foi aquela negociação nos anos 1980?
Pita - Foi uma negociação longa que envolveu grandes jogadores. Naquele tempo não tinha muita briga de diretoria, briga de torcidas. Claro que a torcida do Santos queria que a negociação fosse feita, mas as coisas aconteceram muito bem feitas. O São Paulo sempre teve grandes negociações com o Santos, desde Toninho Guerreiro. Foi muito bom para o Santos na época, para o São Paulo e para mim. Houve a troca com Zé Sérgio e Humberto, que foram logo campeões no Santos em 1984 (Campeonato Paulista) e eu, vindo para o São Paulo, tive sucesso também mais pra frente.

Fazendo um paralelo com o que aconteceu recentemente com o Ganso, como foi a reação da torcida do Santos com você? Como foi o primeiro jogo diante da torcida do Santos?
Não houve (hostilidade). Foi bem diferente da negociação do Paulo, porque ele estava jogando ainda e as coisas estavam acontecendo. Depois que ele falou que seria um prazer jogar no São Paulo, algo do tipo, a torcida não gostou. Eu, na época, estava sem contrato, eu não estava jogando. Mas certamente se eu estivesse entrando em campo pra jogar, a torcida do Santos  com certeza ficaria chateada. Talvez por isso que complicou a negociação do Paulo, foi mais tumultuada nesse sentido. E quando eu joguei contra o Santos pela primeira vez, foi aqui no Morumbi, e eu senti um pouco por enfrentar uma equipe que eu joguei por 11 anos, desde os 16. Mas logo em seguida as coisas mudaram e eu até fiz um gol nesse jogo, ganhamos de 4 a 1. E depois, quando eu fui jogar na Vila Belmiro fiquei muito emocionado porque a torcida do Santos fez uma homenagem por eu ter sido uma das revelações da base do Santos, entrei com uma faixa feita por eles e fiquei muito feliz pelo carinho. Foi bem mais tranquilo. Mas claro que isso acontece quando sai um ídolo do Santos ou São Paulo, gera uma estranheza nos torcedores, mas minha negociação foi bem diferente.

Na época desse caso do Ganso, saíram notícias que você apoiou a ida dele, incentivou, deu dicas. Como foi essa aproximação?
Na verdade, aconteceu sim, mas foi na época em que ele já estava decidido que ele ia sair do Santos, e diziam que eles estava fechado com o Grêmio. Foi quando o Juvenal Juvêncio entrou em contato comigo, eu já havia voltado a trabalhar no São Paulo, e ele me perguntou se eu conhecia o Paulo Henrique. E sim, muitas vezes jogamos contra na base quando eu trabalhava no Desportivo Brasil, sempre conversamos porque sempre houve essa comparação entre nós. Então apenas fui orientá-lo sobre como era o São Paulo, expliquei que o são-paulino gosta de jogadores técnicos, com um perfil igual ao dele, de habilidade. Então não foi na negociação entre Santos e São Paulo e sim para ele avaliar a opção entre Grêmio e São Paulo. E acho que ele está bastante feliz aqui no São Paulo e tem condições de, realmente, voltar a jogar o grande futebol que ele jogou no Santos.

Tá rolando ainda uma dúvida se ele pode jogar junto com o Jadson. O que você acha?
Eu acho que grandes jogadores têm de jogar junto. Tem de haver um jeito, um modo de jogar, pra que eles encaixem, sempre fui dessa opinião. São dois grandes jogadores, com certeza o Ney Franco é um treinador inteligente, sabe que em algum momento vai ter que colocar os dois juntos, porque vai sair boas coisas. Acho que tem de haver um sistema de colaboração, porque o futebol precisa de colaboração na parte da  marcação, mas com certeza são jogadores de habilidade, com técnica avançada e tem de jogar. Jogando juntos, eu acho que seria bom para o São Paulo, se conseguisse encaixar um plano tático para que esses jogadores jogassem junto com Luís Fabiano, junto com o Aloísio que chegou. São jogadores de qualidade que acredito que devem jogar juntos.

E você continua sendo ídolo no Santos. Como vê o momento do clube o que achou da chegada do Montillo, foi uma boa escolha?
Acho que o Santos está num momento maravilhoso. A gente sabe que tudo gira em torno do  Neymar, que é um jogador que desequilibra qualquer partida a qualquer momento, mas o Santos tem um plantel bom e fez boas contratações. O Montillo com certeza vai se adaptar muito bem no Santos, fez boas campanhas nos clubes que passou, no Cruzeiro, então acho que foi uma grande contratação. Acho que os grandes do futebol paulista contrataram bem, menos o Palmeiras que não contratou muito que tá nesse trabalho de subir no Brasileiro.

Que jogador nos dias de hoje você olha e lembra do Pita, além desses que comentamos?

Muito difícil achar esse jogador. Se a gente for pensar aqui vamos contar nos dedos. Vai falar Ganso, Paulo Henrique, Ganso... porque não tem jogadores desse estilo de meia armador, que cadencia o jogo, que lança na hora certa, que põe na cara do gol, que faz gols. Se perguntar da minha época tinha Zenon, Dicá, Pita, Ailton Lira, Mario Sérgio, Sócrates, e por aí vai indo... Renato Pé-Murcho... se você me perguntar eu falo 10 rapidinho. Jogadores de alto nível que faziam esse trabalho com muita categoria. Eu acho que ainda cabe esse jogador e está em falta. Tivemos recentemente o Ricardinho, que lembrava muito o que eu fazia, que cadenciava... eu entrava um pouquinho mais na área, fazia gol de cabeça, de pé esquerdo, pé direito, acho que um pouco mais completo. É uma das cobranças que eu tenho com o Paulo Henrique, pra entrar mais na área, fazer gols. Mas está em falta mesmo no Brasil essa posição. Esperamos que o trabalho de base observe melhor isso que acontece no futebol brasileiro. Já não somos mais o primeiro do mundo, estamos bem abaixo.

E para o clássico de domingo? Tem palpite?
Acho que será um clássico muito emocionante, por essas circunstâncias de jogo, a mudança do Ganso, a montagem nova do São Paulo, do Santos também. Não queria falar de placar, porque as duas equipes vivem uma fase muito boa, mas deve ser um clássico de muitos gols. Acredito num empate, 2 a 2... um jogo desse nível.

Zé Sérgio > "Jogadores não são mais formados para jogar na ponta"



Redação do Esporte - Você participou de uma negociação histórica entre Santos e São Paulo, nos 80, envolvendo Pita e o Humberto. Como foi aquela negociação? Você queria mesmo trocar de ares?
Zé Sérgio- Foi uma oportunidade que teve com a chegada do Cilinho no São Paulo. Ele estava fazendo algumas mudanças, renovações no São Paulo, e eu também não estava em uma grande fase, tive muitos problemas de contusão, principalmente no joelho. E houve a negociação com o Santos que queria fazer uma equipe a curto prazo pra já tentar ser campeão em 1984, e conseguiu esse objetivo (Campeonato Paulista). O plano do São Paulo era mais a longo prazo e foi o que aconteceu com a ida do Pita. Então casou as duas coisas. Essa negociação aconteceu mais pela minha fase negativa, talvez, se eu não estivesse assim, com os problemas no joelho, não teria ocorrido essa negociação.

Como foi o primeiro jogo contra o São Paulo?
Não teve nada de especial. Lógico que depois de 11 anos trabalhando no mesmo clube, eu nasci praticamente no São Paulo, e isso deve ter ocorrido com o Pita, que foi formado no Santos, então tinha um friozinho na barriga. Mas nada de especial. A partir do momento que você vira profissional não tem mais essas coisas de “coração”, de emoção, isso fica de lado.

Você lembra do placar daquele jogo?
Mais ou menos. Acho que nós tomamos uma chacoalhada (risos). De 3 ou 4, se não me engano, no Morumbi.

Sim, foi 4 a 1, inclusive o Pita marcou o primeiro gol.
Sim, foi isso que tava na minha imagem. Mas então, naquele ano fomos campeões, mas nossa força mesmo era contra equipes menores, do interior, e contra os grandes nós tínhamos dificuldades. Mas nós ganhamos do Corinthians no último jogo do Campeonato e fomos campeões.

Falando ainda sobre troca de ares, como você enxergou esse caso da troca do Ganso para o São Paulo? Acha que ele fez bem?
Acho que o São Paulo está correndo o mesmo risco que o Santos correu naquela época comigo, por causa das lesões que eu tive. Ainda não temos certeza se o Santos vai jogar aquilo que ele jogava antes de se machucar. Não pela condição técnica, mas por causa da lesão mesmo. Então é parecido.

O Lucas seria um Zé Sergio que joga pela ponta direita? Você acha que ele pode ser um dos maiores jogadores do mundo?
Ele tem essa condição, só não sei se no futebol que ele foi (francês) ele vai conseguir. Se ele tivesse ido pro futebol espanhol, talvez ele tivesse mais possibilidade, mas o futebol francês é muito complicado. Ele chegou agora lá, mas tá com muita dificuldade pra jogar. Dois jogos que eu assisti dele, a marcação foi meio pesada. A pegada é forte, não tem espaço, o jogo é truncado. Ele vai ter dificuldades pra fazer as jogadas individuais que ele fazia aqui. 

A função de ponta praticamente não existe mais no futebol. Você acha que ela voltará um dia a existir? Existe alguém hoje que faça mais ou menos a sua função?
Não. Você vê hoje em dia um ou outro com essa característica, mas é diferente, são atacantes pela beirada, mas não pontas. Eles entram mais pela diagonal, não fazem jogada de linha de fundo, como faziam os pontas, servindo os atacantes e os centroavantes que vinham por dentro. Não vejo ninguém nessa função. Tem uma comparação hoje no São Paulo com o Osvaldo. Ele é um atacante pela beirada, mas não faz jogada de linha de fundo. Faz jogada em diagonal, em direção ao gol. Fazíamos isso também, mas nossa especialidade era jogada de linha de fundo, e era tradição no futebol brasileiro antigamente. Eram 2 pontas e um atacante, então a maioria dos times jogava no 4-3-3. Hoje até joga no 4-3-3, mas com dois meias ou atacantes pela beirada. E não dá pra ver mesmo por eles (jogadores) não são formados pra isso, pra fazer jogadas de linha de fundo, e sim pra jogar em diagonal.

Como enxerga hoje o momento de Santos e São Paulo?
Vejo o São Paulo um pouquinho melhor até em função da Libertadores. Até pela condição que o São Paulo tem de formar uma equipe mais forte em função da venda do Lucas, então faz a diferença no que o São Paulo quer pra esse ano. O Santos também se fortaleceu bastante, principalmente naquilo que acontecia ano passado, em que o único que resolvia os problemas era o Neymar. E ele tava resolvendo o problema, mas tava sobrecarregado demais. Então contrataram atletas para dar o suporte ao Neymar e pelo menos nesses primeiros jogos que eu tenho visto, o Santos vem correspondendo. Mas na defesa ainda não muita coisa, ainda está um pouquinho deficiente. E isso foge da característica do Muricy, que sempre armou uma defesa muito forte. Já o São Paulo se armou em todos os pontos, defesa, meia e ataque. Ainda não sei se o São Paulo vai usar seu time mais forte nesse jogo, ainda tem essa dúvida. Mas vai ser um jogo equilibrado, principalmente em função de ser na Vila Belmiro. Se fosse no Morumbi, talvez fosse um pouquinho mais pro lado do São Paulo.

Tem palpite pro clássico de domingo na Vila? Tem torcida?

Não, é meio a meio. Apesar de ter sido formado no São Paulo, jogado 11 anos lá, ganhei vários títulos, jogado quase minha carreira toda no São Paulo, mas por outro lado eu tenho uma simpatia muito grande pelo Santos. Joguei pouco tempo lá, só 3 anos, mas gostei demais de jogar lá. Até hoje eu nunca vi ninguém reclamar de jogar no Santos, muito pelo contrário. Então ta dividido. O legal desse jogo vai ser a qualidade técnica, deve ser um jogo muito interessante e bonito de se ver.

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* A coluna Trocando Ideia é um bate-papo descontraído com grandes personagens do esporte.


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