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sábado, 15 de dezembro de 2012

Trocando Ideia > Alberto: "Sinto saudade de tudo"

por Ricardo Pilat | pilatportasio@gmail.com | @ricardopilat
e Fernando Pilat | @fernandopilat

Ele passou por mais de 20 times durante a carreira, na grande maioria, por períodos curtos. Mas certamente, Alberto será sempre lembrado pela passagem no Santos Futebol Clube, em um momento mágico do clube da Baixada. Foram apenas 6 meses, mas os melhores 6 meses de sua vida. "Sinto saudade de tudo. É até frustrante falar... Se eu não tivesse cabeça, seria depressão todo dia", conta o ex-atacante, hoje com 37 anos.

Em 2002, aos 27, ele era um dos mais experientes em um time liderado por uma dupla de meninos... um tal de Diego e e outro tal de Robinho.

Neste dia 15 de dezembro, o Santos celebra 10 anos do título brasileiro de 2002, troféu que pôs fim a um jejum de 18 anos sem conquistas importantes no clube.

Para homenagear o torcedor do Santos, entrevistamos Alberto em evento ocorrido nesta semana, promovido pelo site Santista Roxo e pela Associação Resgate Santista. E como não poderia deixar de ser, a primeira pergunta foi sobre a mítica bicicleta no jogo contra o Corinthians, ainda no primeiro turno. "O mais importante da minha carreira".

Clique no player para ouvir a entrevista ou leia abaixo.




Redação do Esporte
- Todo mundo lembra daquele gol histórico do título de 2012 que foi o gol de bicicleta (vitória contra o Corinthians, 4 a 2 no Pacaembu), mas as pessoas não lembram do gol que você fez no primeiro jogo da final, que abriu o placar daquela partida (2 a 0 também contra o Corinthians, no Morumbi). Qual desses gols você acha que foi mais importante pra sua carreira e para o Santos naquele momento?

Alberto - Foram dois gols importantes. O de bicicleta foi num momento de afirmação do grupo. Nosso grupo era uma molecada que não tinha provado nada. Ganhava, jogava bem, mas falavam "quero ver a hora que chegar o momento decisivo". Aquele jogo afirmou que a equipe tinha vindo para incomodar mesmo. Deu confiança pro grupo. O gol da final... eu sempre fiz os gols importantes (no mata mata daquele ano), sempre o primeiro gol do jogo. Dava tranquilidade pro time. E dar confiança pra um Robinho? É brincadeira. O moleque pedala, arrebenta. Mas o mais importante pra mim foi o gol de bicicleta, que até hoje é o mais lembrado e comentado. Perguntam pra mim se foi o mais bonito da minha carreira, É lógico! Quando eu ia fazer outro daquele?

Redação do Esporte
- Teve algum jogo que você lembra naquela campanha que vocês sentiram que o Santos seria o campeão?

Alberto - Na realidade, todos os jogos (do mata-mata). Pegamos o São Paulo e ganhamos. Era o líder não sei quantos pontos na nossa frente. Depois veio o Grêmio, um jogo difícil, Grêmio fechadinho, nove atrás e um na frente mais o goleiro. Fiz aquele gol de fora de área que abriu o placar (no primeiro jogo, na Vila), com meus pais no estádio. Foram gols decisivos, como aquele da final, que nos deu a vantagem de 2 a 0 pro segundo jogo. Foi importante pra caramba. Tivemos uma desconfiança na final já que o Alberto ficou fora (suspenso, terceiro cartão amarelo), Diego saiu com 5 minutos de jogo saiu machucado. Aquele gol ajudou bastante. Eu sinto muito orgulho de ter participado desses gols decisivos, de ter dado passe pro Robinho fazer gol. Eu cheguei a ficar sete rodadas sem fazer gol. O pessoal me chamava de garçom. Mas já era pra eu ter caído, ter colocado outro pra jogar. Só que eu vinha fazendo minha parte ajudando o grupo. Eu sabia que eu estava sendo importante. Você nunca sabe o que a imprensa vai achar, o que a torcida vai achar, o que o treinador vai achar. Era tenso pra mim, "tou ajudando, mas a bola não tá entrando". Eu não tinha nem oportunidade pra chutar a gol. Eu não errava gol. Mas aí, quando eu fiz o primeiro gol, de joelho, a bola bateu nas duas pernas e entrou, aí abriu a porteira.

Redação do Esporte
- Naquele grupo, parecia que o Leão estava mudando o jeito dele de ser por causa dos jogadores. Como era aquele grupo?

Alberto - Você imagina o Leão, mas na imagem do leão mesmo, o animal. Cortaram a juba dele! Aí ele deu uma diminuída. Não se sentiu o dono do time, o rei da selva. Ele pensou: "eu sou o cara que preciso ajudar essa molecada, dar confiança pra eles. Se eu xingar o moleque, o moleque se retrai e acabou o time.

Redação do Esporte - Qual a melhor lembrança que você tem daquela época? Do que mais sente saudade?
Alberto - Sinto saudade de tudo (pausa). É até frustrante falar... Se eu não tivesse cabeça, seria depressão todo dia. Lembrar que eu vivi aquele momento e acabou.


Redação do Esporte - Era a melhor fase da sua carreira, você já tinha uma certa idade, e tava jogando um ótimo futebol. Seria seu auge ali. O Santos com um grande time, disputando Libertadores e você acabou saindo (logo após o Brasileirão 2002, foi para o Dinamo Moscou-RUS). Por que? Foi uma decisão sua?
Alberto - Olha, eu sempre fui um irresponsável da minha carreira. Eu entreguei na mão de Deus de um jeito que eu não esparava nada. E aconteceu com 27 anos. Fui campeão com um monte de clubes pequenos, fui artilheiro, e ninguém viu nada. Mas eu sabia que alguma coisa ia acontecer, que o futebol era a minha vida. Eu era adiantado na escola, no segundo grau, e minha mãe falou "Alberto, é isso que você quer?. Você tem o estudo, você está indo bem... você parar pra jogar bola?. Eu falei "vou jogar bola, mãe". Parece que eu era predestinado a fazer aquilo ali. E eu ajudei a minha família inteira, de uma forma irresponsável. Ajudei todo mundo e não pensei que se eu ia ter sobra pra minha vida inteira. Eu ainda tinha uma vida inteira pela frente. Eu sabia que ia dar certo. Fui um predestinado. Eu até acho que não fui melhor sucedido na carreira porque Deus não quis. Senão eu ia estar numa gandaia até hoje. Eu ia estar cheio de dinheiro com uma vida desviada. É complicado. Você vê o cara ganhar hoje R$ 300 mil por mês e neguinho cobrar dele. Vai cobrar o que, cara? Eu podia ser assim. Mas acho que eu cheguei onde tinha que chegar. Não sou frustrado nesse sentido. "Se você ficasse pra disputar a Libertadores podia ter ido pra seleção brasileira". Podia, mas não fiquei. Por que que eu saí? Saí porque não me ofereceram uma renovação. Eu ficaria no Santos por muito menos do que já ganhavam os garotos. Eu me sentia realizado naquele grupo. Aconteceram coisas boas pra mim pelo que eu fiz no Santos, mas para o Santos Futebol Clube e a diretoria talvez eu não fosse peça essencial como eu era pra torcida, de repente. E eu tive uma proposta que eu nunca tive na minha vida. Eu pedi um valor e o cara me deu o dobro! Eu tive que ir, porque nunca tinha visto aquele dinheiro na minha vida. Joguei em vários clubes pequenos... então chegou a oportunidade com 27 anos. Pra você ver como são as coisas, eu fui arrependido...

Redação do Esporte - Não queria ir?
Alberto - Não queria, mas pelo que eu tava ganhando eu tinha que ir. Eu fui racional naquele momento de pensar que o futebol é o que eu vivo agora depois depois que eu parei, é ingrato. Acabou, acabou. Ninguém vai me pagar salário de jogador porque eu sou o Alberto. Acabou, meu amigo. Ninguém me dá mais nada. Então eu pensei: e se eu machucar? Eu não ganhei nada. Quem é que eu vou ajudar? Como eu vou fazer? E com esse dinheiro eu comprei casa pra minha mãe, ajudei meu pai, ajudei todo mundo. É o dinheiro que eu tenho até hoje.

Redação do Esporte - Tem uma vida tranquila hoje?
Alberto - Tou trabalhando. Tou correndo atrás. Eu não tenho um dinheiro que eu possa colocar numa conta e ter um rendimento que me deixe sossegado. Mas isso é que com muito orgulho. Eu joguei futebol, eu ralei pra caramba, pra acordar cedo, pra treinar... você come, descansa, e já volta pra treinar de novo. Essa energia toda que eu tinha pra jogar, eu posso usar pra trabalhar hoje. Eu viajo toda hora. Eu tenho escola em Ponta Porã (MS), tenho minhas coisas em Campo Grande (MS), tenho uma escola em São José do Rio Preto (SP), família em Jundiaí... tenho que descer pra Santos pra workshop, peneira, teste dos moleques. Eu sacrifico minha família hoje, minha filhinha de 4 anos fala: "papai, você já vai?", Vou filha, papai tem que ir. Eu acho que eu tenho que ir, tenho que oferecer isso pra ela, dar um futuro pra ela e não me arrependo de nada.

Fotos:
Ricardo Pilat/Redação do Esporte e Lancenet!

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* A coluna Trocando Ideia é um bate-papo descontraído com grandes personagens do esporte.


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