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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Copa no Quintal > Itália: Tradição, orgulho e respeito


Ah, Azzurra. Sempre carregando o fascínio que você impõe sobre seus adversários, essa admiração, esse respeito que aquela cor azul coloca em campo, que a torna tão admirável. Seriam seus esquadrões tão temidos? Seu futebol vistoso e bonito? A forma exuberante com que sempre chega ao Mundial ou as campanhas irrefutáveis nos mesmos? A organização exemplar de seu campeonato nacional? Bom, como tifosi honorário posso dizer tranquilamente que a resposta para todas essas perguntas é: não.

Afinal, nunca a vimos chegar numa Copa do Mundo como franca favorita ao titulo, mesmo quando foram à competição para defender seu título. Pelo contrário! Quase sempre chegam sob olhares desconfiados, muitas vezes até em crise e sempre se arrastando na primeira fase contra adversários fraquíssimos ou de pouca tradição. E é ai que mora um dos seus segredos: a sua “previsível imprevisibilidade”. “Mas Helder, você encarnou o Cleber Machado ou o Fernando Pilat?”. Nem um nem outro, mi amici, e os motivos explico a seguir.

Começando pelo seu esquema de jogo bem definido por uma escola cuja tradição os acompanha a décadas. Meu pai e meus avôs sempre falaram do esquema de jogo 8-1-1 típico da seleção italiana e seguido a risca pelos atletas. O goleiro sempre é alguém acima da média, com nomes como Zoff, Pagliuca, Peruzzi e Toldo. Dos “oito defensores”, sempre haverá três tipos de zagueiro: um carniceiro (Gentille, Materazzi), um técnico (Scirea, Facchetti, Baresi, Nesta) e um voluntarioso que consegue unir o melhor dos dois de anteriores (Cannavaro, Bergomi); um volante com pulmão invejável que tão carinhosamente chamamos de “brucutu” no Brasil (Gattuso, Dino Baggio) e outro volante que tem um passe um pouco melhor (Albertini, Antonio Conte). O “um” é um meia clássico de habilidade e visão invejável, até raras às vezes. Quem não conhece Roberto Baggio, Del Piero ou Totti?; E o centroavante é alguém de habilidade duvidável, mas com faro de gol (Oi, Paulo Rossi? Vieri? Inzaghi?). Ah sim, e SEMPRE há algum brasileiro, argentino ou uruguaio naturalizado no time, como jogaram nosso conhecido carrasco Ghiggia, o campeão pelo Brasil em 58 Altafino Mazzola e o argentino Camoranesi em 2006.

O time sempre vem com essas mesmas peças estereotipadas e já definidas e por mais que alguns digam que o time atual é “diferente” dos anteriores, as peças são sempre as mesmas. Já se vê Gigi Buffon voando embaixo das traves há muito tempo; Chiellini, Bonucci e Barzagli são os três zagueiros bem definidos. No meio de campo De Rossi é o pulmão, Montolivo o passe mais “qualificado”, Pirlo o maestro e no ataque, Balotelli, o matador. E os naturalizados que não podem faltar, há o nobre cidadão da Mooca Thiago Motta e o argentino Oswaldo.

Outro fator é a falta de expectativas que o time cria (ou não cria, como quiser). Campanhas terríveis ou extremamente sofridas em competições anteriores e retrospectos duvidosos em amistosos são mais do que comuns. A Itália jamais faz uma campanha de encher os olhos. Não existe meio termo com eles. Ou lutam bravamente, sofrendo para passar por todas as fases, ou perdem de maneira vexatória. Esse ano não parece que será diferente uma vez que, graças a uma maracutaia na tentativa da FIFA e UEFA salvarem a França, a Azzurra caiu no grupo da morte junto de Inglaterra, Uruguai e Costa Rica.

Também beira ao clichê algum esquema de corrupção ou manipulação de resultados na Serie A eclodirem antes de competições importantes, muitas vezes, com atletas, técnicos e árbitros envolvidos, o que agrava a crise de tal maneira que é comum de se ver jogadores desembarcarem sem conversar com seus jornalistas paesani. E com razão, pois a imprensa de lá é tão parcial e corneteira que seria capaz de tornar qualquer Chico Lang um exemplo de neutralidade. Tudo por conta de fanatismo exacerbado que rege o país no que diz respeito ao Calcio. Ou vai dizer que você ainda não conhece o jornalista italiano Tiziano Crudelli, o homem que melhor representa a paixão italiana pelo esporte?


E no final, o que mais nós, brasileiros, tanto admiramos na Azzurra é o orgulho que os jogadores sempre mostram no gesto simples de cantar seu hino antes das partidas. Algo que parece muito simples, mas que no final das contas nos falta. Um amor pela pátria que de tão intenso, cativa. Marca registrada de um povo caloroso que vive de acordo com suas emoções. As raízes italianas nessa terra e a macarronada da vovó aos domingos só endossam a simpatia e a torcida. Sempre desacreditados, com o favoritismo limitado à camisa, mas com o respeito exalado pela camisa azul são as principais armas da Azzurra em busca do penta. Há quem diga que o time que vem para o Brasil é diferente dos anteriores, mas falando sério, quem acredita nisso?

E é o que os torna o que são. Os torna tradicionais. Os torna respeitados. Os torna queridos. Os torna queridos.

PS: A caminhada italiana é um filme que sempre se repete, mas com um final que sempre muda. Há não ser que no caminho apareça a Alemanha, porque aí todos sabem como vai acabar. O bicho para o spaghetti é sempre garantido.



Convocação da Itália para a Copa do Mundo (pré-lista)

Goleiros: Buffon (Juventus), Sirigu (PSG), Perin (Genoa)
Defesa: Barzagli (Juventus), Chiellini (Juventus), Bonucci (Juventus), Abate (Milan), De Sciglio (Milan), Ranocchia (Inter), Palleta (Parma), Pasqual (Fiorentina), Darmian (Torino), Maggio (Napoli)
Meias: Pirlo (Juventus), Marchisio (Juventus), Montolivo (Milan), De Rossi (Roma), Candreva (Lazio), Parolo (Parma), Aquilani (Fiorentina), Verratti (PSG), Thiago Motta (PSG), Rômulo (Verona)
Ataque: Balotelli (Milan), Rossi (Fiorentina), Cassano (Parma), Destro (Roma), Insgne (Napoli), Immobile (Torino), Cerci (Torino).

Atualizado em 3 de junho, 16h27.

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* Aqui na coluna Copa no Quintal você entra no clima do Mundial no Brasil, com as análises das principais seleções que nos visitarão em 2014.



por Helder Rivas | comentarista italiano da Copa do Mundo 2014
@HelderRM

Um comentário:

  1. Acho que o time do Prandelli foge bem à risca de retranca que acompanha a Itália desde sempre. É uma equipe que gosta da bola, possui jogadores com certa intimidade com a palla, e que buscam a finalização das jogadas ao invés da destruição. O que eles têm em comum com outras squadras é o olho torto e a desconfiança. Mas, essa camisa entorta varal, amigo. Eu não descarto a Itália nunca, mesmo se eu não fosse um tifoso.

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