Se o seu time gosta de tocar a bola de um lado para o outro, costuma ter uma posse de mais 70% por partida, não gosta de arriscar de longe e só fica cruzando mais do que cachorro no cio. Cuidado, talvez esteja sofrendo de uma doença chamada “Barcelonite Aguda”.
Deixando a brincadeira de lado, eu até gosto do futebol bem jogado, com toques rápidos e precisos, as duas equipes com propostas de atacar, o tal do tiki-taka é legal de assistir, mas serei obrigado a recitar duas frases mais manjadas e repetidas do que a exibição de “A Lagoa Azul” na Sessão da Tarde (graças a Deus que não teve hoje). A primeira: posse de bola não ganha jogo. A segunda: se não chutar, não faz gol. Simples assim, e o Bayern de Munique deu uma de Barcelona na quarta-feira passada e praticamente não assustou a meta de Casillas durante os primeiros 90 minutos de um duelo de 14 títulos europeus.
O Bayern começou bem ao seu estilo Guardiola de ser: uma posse de bola acima dos 70%, aquele tiki-taka com sotaque alemão e nada de chance concreta. Só que o treinador não tinha ideia da arapuca que Ancelotti havia preparado e na base do contragolpe, e da eficiência, abriu o placar aos 18 minutos: Cristiano Ronaldo deu um passe para Coentrão pela esquerda. O lateral cruzou rasteiro e Benzema apareceu em velocidade para empurrar no fundo da rede de Neuer.
Isso Ancelotti sabe fazer, não foi à toa que fez sucesso no Milan e conquistou os títulos mais importantes com uma defesa sólida, uma outra linha de quatro jogadores no meio (estilo futebol inglês) e na base do contra-ataque fazia o resultado.
No Bayern, Ribéry não conseguiu fazer nada contra a defesa muito bem fechada do Real Madrid. Quem buscou mais o jogo foi Robben. O holandês ganhou a maioria dos duelos com Coentrão pela ponta, mas acabou se perdendo em sua própria confiança e muitas vezes foi fominha. Já o Real poderia até matar o confronto ainda no primeiro tempo com duas excelentes chances perdidas por Cristiano Ronaldo e Dí Maria, porém ambos mandaram a pelota por cima da meta de Neuer.
A segunda etapa teve o mesmo panorama do primeiro. O Bayern precisava sair para empatar, só que não conseguia criar. Guardiola bem que tentou mexer na equipe e implantar a sua filosofia, mas não surtiu efeito e nem na base da “empurrança” conseguia empatar. Acredito que se o árbitro desse mais 30 minutos de acréscimo não haveria alteração no placar, pois se de um lado teve muito ‘nhém- nhém- nhém’ na área e sem objetividade (Bayern), do outro, tivemos uma equipe que não estava nem aí para o segundo tempo e só queria que o jogo terminasse logo (Real).
Uma coisa que me deixou intrigado: a teimosia do time bávaro em cruzar bolas na área. Tudo bem que eles têm o Mandzukic, é alto, “trombador”, mas tentar 999.999.999...cruzamentos – e todos errados (segundo o Instituto de Pesquisas DataLemos) e não aproveitar a qualidade em jogar pelas trincheiras, realmente pediu para perder. É uma coisa que eu vejo, por exemplo, no futebol americano, se um time não consegue jogar pelo alto, a saída é por baixo. Isso poderia acontecer nesse jogo. Oras, se o Bayern tentou pelo alto e não obteve sucesso, por que não tentou por baixo?
E nisso, eu tiro outra vez o chapéu para o Ancelotti que treinou, e muito, essa jogada. O Bayern do Guardiola, assim como do seu antecessor, além do toque de bola, tem a jogada aérea como ponto forte e foi completamente neutralizada.
Fim dos primeiros 90 minutos e 1 a 0 para o Real Madrid. Para o jogo de volta, os dois treinadores terão seus pupilos à disposição. O Bayern joga em casa, terá que sair para o jogo, precisará tirar essa diferença e acima de tudo: não levar gols. E gol fora de casa, numa fase dessas, faz toda a diferença.
Reveja esse conceito, Guardiola, no jogo de ida foi 68% de posse de bola, raríssimas chances de gol e cruzamentos errados que consagraram a zaga merengue. É bonito, é moderno, mas não ganha jogo e muito menos campeonato. Ou reverte o resultado ou o “Império Bávaro” vai começar a entrar em xeque.
Para quem sofre de ‘Barcelonite Aguda’, leia este aviso e previna-se: “A persistirem os sintomas seu time será eliminado”.
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* A coluna Gringolaço analisa os principais torneios e acontecimentos do futebol europeu.
por Antonio Lemos | www.paponaarquibancada.blogspot.com.br
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